sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A Doutrina Reformada acerca da Revelação

por

Paulo Anglada

 

Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo (Confissão de Fé de Westminster, 1:1)

O primeiro capítulo da Confissão de Fé de Westminster começa tratando da bibliologia, a doutrina das Escrituras. Isto é apropriado. Não porque a doutrina das Escrituras seja mais importante do que outras doutrinas, como a pessoa e obra de Deus (a teologia propriamente dita) e de Cristo (a cristologia). Mas porque a doutrina das Escrituras é a base, a fonte de todas as demais doutrinas.

Com o princípio reformado resumido na expressão latina sola Scriptura, os reformadores rejeitaram a autoridade das tradições eclesiásticas e das supostas novas revelações do Espírito. E restabele­ceram as Escrituras como única regra de fé e prática, como única fonte autoritativa em matéria de doutrina e prática eclesiástica.

 

DIVISÃO DO ASSUNTO


As seguintes doutrinas são tratadas neste capítulo da Confissão de Fé:

Doutrina da Revelação (parágrafo I)

O Cânon e a Inspiração das Escrituras (parágrafos II e III)

Autoridade das Escrituras (parágrafos IV e V)

Suficiência das Escrituras (parágrafo VI)

Clareza das Escrituras (parágrafo VII)

Preservação e Tradução das Escrituras (parágrafo VIII)

Interpretação das Escrituras (parágrafo IX)

O Juiz Supremo das Controvérsias Religiosas (parágrafo X)

 

REVELAÇÃO NATURAL


Confissão de Fé de Westminster começa professando a doutrina da revelação natural: Deus se revela por meio das obras que foram criadas e da própria consciência do homem, na qual está impregnado um padrão moral, ainda que imperfeito por causa da queda.

Biblicamente falando, o universo físico é uma pregação. O cosmos proclama os atributos de Deus. O macrocosmos (as estrelas, os planetas, os satélites, com sua imensidão, grandeza e leis), o cosmos (a terra, os mares, as montanhas, os vegetais, os animais, o homem), e o microcosmos (os microorganismos, a constituição dos elementos, etc.) revelam muita coisa a respeito da pessoa e da obra de Deus. O Autor de tal obra tem de ser infinitamente sábio e poderoso.

O próprio ser humano, como criatura de Deus, independente­mente do aprendizado, já nasce com uma consciência, uma versão da lei de Deus impregnada no seu ser que o habilita a discernir entre o bem e o mal e com um instinto que o induz à adoração da divindade. Este é o ensino bíblico do Antigo e do Novo Testamento:

Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo (Sl 19:1-4).

Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas (Rm 1:19-20).

Quando, pois, os gentios que não têm lei procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se (Rm 2:14-15).

Ao estudar a criação, o homem deveria procurar ver Deus nela, pois é obra dele, e revelam os seus atributos. As ciências podem até ser consideradas departamentos da teologia, especializações que estudam a criação e a providência. O estudo da química, da física, da matemática, da biologia, da geografia, da política, da antropologia, da história, etc., deve ter por fim último a glória de Deus. Não é sem razão que muitos dos primeiros cientistas dignos do nome eram cristãos sinceros, como Isaac Newton e Faraday.

Ao se estudar a criação, em qualquer esfera, deveria se descobrir nela as mãos de Deus e as mãos do diabo. Por um lado, observa-se nela impressionante e substancial lógica, ordem, harmonia, sabedoria e poder. Por outro lado, pode-se também perceber na natureza os traços da corrupção, desordem, conflito e degeneração decorrentes da queda. Mas a educação do nosso século, especialmente no nosso país, embora, em geral, reivindique ser cristã, tornou-se na verdade materialista. Onde, nas escolas e universidades, essas disciplinas são estudadas com essa perspectiva e com esse propósito?!

 

A CULPA HUMANA


Se o homem não houvesse caído, a revelação natural seria suficiente para que ele compreendesse as verdades com relação a Deus, à criação, ao próprio homem, etc.; de modo a submeter-se a Deus e a adorá-lo, rendendo-lhe a graça, o louvor e a honra que lhe são devidas.

Mesmo caído, a revelação natural ainda é suficiente para torná-lo indesculpável, pois o homem natural deturpa a revelação natural. Ele não dá ouvidos à pregação da natureza que o convida a glorificar a Deus. Ele não se submete à proclamação do cosmo, nem reconhece a origem divina das leis que regem o universo. O homem natural também não se submete às leis da sua própria consciência, transgredindo-as constante e deliberadamente. Recusando-se rebeldemente a reconhecer a soberania do Criador e a adorá-lo, o homem natural prefere adorar a criatura.

Tais homens são por isso indesculpáveis; porquanto tendo conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis... pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém (Rm 1:21-23, 25).

Este diagnóstico é igualmente verdadeiro, quer aplicado à filosofia dos sofistas, epicureus e gnósticos da Grécia Antiga, quer aplicado ao humanismo renascentista, quer aplicado à ciência materia­lista moderna. Onde, insisto, nas escolas e universidades de nosso país, estuda-se a criação pela perspectiva das Escrituras e com o propósito de glorificar a Deus?

O homem natural confunde o Criador com a criação (e crê no panteísmo), isola o Criador da criação (e prega o deísmo), rejeita o Criador (e professa o materialismo), ou dá-se por satisfeito com a criação (dando origem ao naturalismo). Na sua louca cegueira, o homem natural rebelde vai além: ele prefere atribuir os traços de corrupção, desordem e conflito percebidos na criação ao Criador, e explicar a substancial lógica, ordem, harmonia, sabedoria e poder nela percebidos às forças cegas da natureza, à evolução natural, à seleção natural, ou mesmo a mutações genéticas.

Por isso o homem é indesculpável. Por isso é justamente culpado: por se recusar a andar conforme o grau da revelação que recebe, seja da natureza, seja da consciência, e se entregar rebelde e arrogan­temente a todo tipo de impiedade. “Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem” (Rm 1:32).

 

INSUFICIÊNCIA DA REVELAÇÃO NATURAL


A revelação natural é, portanto, suficiente para condenar, mas não para salvar. Devido ao estado decaído do homem, a revelação natural não é nem clara nem suficiente para que as verdades necessá­rias à sua salvação sejam compreendidas.

A religião natural ensina que a revelação da natureza é suficiente para a salvação do homem. Para os que assim pensam, a mente humana desassistida pode compreender tudo o que é necessário à salvação. Mas tal ensino contradiz frontalmente a revelação bíblica. De acordo com as Escrituras, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Segundo as Escrituras, “aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação” (1 Co 1:21). É por isso que o apóstolo Paulo exclama: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:13-14). Qual a conclusão? “Logo, a fé vem pela pregação (pelo ouvir) e a pregação (o ouvir), pela palavra de Cristo” (Rm 10:17).

Deus se revela na criação, sim. Esta revelação é suficiente para tornar a raça humana indesculpável. Mas, por causa da queda, não é suficiente para a salvação de ninguém.

 

REVELAÇÃO ESPECIAL


Não sendo a revelação natural suficiente para salvar o homem em função da queda, aprouve a Deus revelar-se diretamente à igreja.

Assim, Deus preparou um povo, Israel, na Antiga Aliança, e a greja, na Nova Aliança, para revelar-lhe diretamente o conhecimento necessário à salvação. De modo direto e sobrenatural, por meio do seu Espírito, através de revelação direta, teofanias, anjos, sonhos, visões, pela inspiração de pessoas escolhidas e pelo seu próprio Filho, Deus comunicou progressivamente à igreja, no curso dos séculos, as verda­des necessárias à salvação, as quais, de outro modo, seriam inaces­sí­veis ao homem.

Foi assim que Deus revelou-se a Noé, a Abraão, a Moisés, aos profetas, a Davi, a Salomão, aos seus apóstolos e, especialmente, em Cristo. É neste sentido que o autor da Epístola aos Hebreus afirma que, “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1:1-2). Cristo é a revelação final de Deus.

É este também o sentido das palavras do apóstolo Paulo endereçada aos gálatas: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:11-12).

À igreja de Deus, portanto, foram confiados os oráculos de Deus, uma revelação especial, inspirada, clara, precisa, autoritativa, suficiente para ensinar ao homem o que ele deve conhecer e crer e o que dele é requerido, com vistas à sua própria salvação e à glória de Deus.

 

REVELAÇÃO ESCRITA


Tendo em vista a insuficiência da revelação natural e a absoluta necessidade da revelação especial, aprouve a Deus ordenar que esta revelação fosse toda escrita, a fim de que pudesse ser preservada e permanecesse disponível, para a consecução dos seus propósitos eternos. Deus conhece perfeitamente a natureza humana corrompida. Ele conhece também a malícia de Satanás, bem como a perversão do mundo. Ele sabe que revelar a sua vontade à igreja não seria suficiente, pois seria fatalmente corrompida e deturpada. Basta observar as tradições religiosas, mesmo as ditas cristãs; como tendem inexoravel­mente para o erro!

Por isso Deus fez com que todas as verdades necessárias à salvação, santificação, culto, serviço e vida do homem, fossem escritas e preservadas, para que pudessem ser conhecidas, cridas e obedecidas. Com este propósito, o próprio Deus, por meio do seu Espírito, inspirou os autores bíblicos, a fim de que pudessem escrever a revelação especial, sem erro algum.

Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Tm 3:16).

Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações; sabendo, primeira­mente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1:19-21).

De acordo com este parágrafo da Confissão, portanto, a revelação escrita é expressão da graça de Deus com vistas à preser­vação da integridade da verdadeira religião e à salvação, edificação e conforto do seu povo.

 

NECESSIDADE DAS ESCRITURAS


Sendo a Palavra escrita o meio escolhido por Deus para revelar a sua vontade ao homem, ela não pode ser dispensada, igualada, acrescentada nem suplantada. Nem o Espírito agiria em detrimento ou à parte dela, mas com e por ela. É neste sentido que as Escrituras são necessárias e indispensáveis para a comunicação das verdades necessárias à salvação. A Igreja Católica têm a tradição oral. Os reformadores radicais tinham a palavra interior. Outras denominações modernas têm novas revelações do “Espírito.” A fé reformada se fundamenta inteiramente nas Escrituras.

* Extraído de Paulo R. B. Anglada, Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras (São Paulo: Editora Os Puritanos, 1998), 25-31.

Ler Salmo 19:1-4; Romanos 1:19-22; 1 Coríntios 1:21; e Romanos 10:13-14,17.

 


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MILAGRES

MILAGRES

por

Gordon J. Spykman


 

TEOLOGIA REFORMACIONAL
UM NOVO PARADIGMA
PARA SE FAZER TEOLOGIA

por

GORDON J. SPYKMAN


Milagres


Durante mais de um milênio os ensinos referentes ao mistério dos milagres foram mantidos, seriamente, pela distinção escolástica entre o “poder ordenado” de Deus (potentia ordinata – providência) e seu “poder absoluto” (potentia absoluta – milagres). Entre os pensadores que deduzem a vontade de Deus, com freqüência a idéia de “poder absoluto” terminava em puro voluntarismo. Conforme este conceito a mão de Deus se estende direta e imediatamente aos assuntos de nosso mundo. Deus pode fazer qualquer coisa que ele queira fazer, o que acaba sendo uma caricatura do ensino bíblico que afirma “para Deus todo é possível”. Em conseqüência, os atos da providência de Deus são concebidos de forma arbitrária, inclusive, caprichosa. Tais noções voluntaristas de “poder absoluto” negam os ensinos bíblicos da constância pactual do operar de Deus no mundo, constância que está firmemente fundamentada em sua Palavra mediadora para a criação. Outros pensadores, que acentuam a racionalidade divina, apelam para a idéia de “poder absoluto” para afirmar que Deus pode fazer todo o que seja consistente com as leis da lógica. Somente são logicamente concebíveis aqueles atos divinos que não envolvem uma violação da regra da não-contradição [1] (inclusive o milagre sacramental da misteriosa transubstanciação do pão e do vinho na eucaristia era, segundo se sustentava, logicamente defensável). No caso de tais demonstrações racionais do poder absoluto de Deus para realizar milagres, se apóia fortemente nos métodos aristotélicos de raciocínio, introduzidos no cristianismo ocidental por Boethius, e canonizados pelas Sentenças de Lombardo, elaborados pelos grandes pensadores da igreja medieval. Essa classe de pensamento foi repudiada pela maioria dos reformadores, mas revivida rapidamente pelo escolasticismo protestante, devido à influência de Beza e Melanchton. Os efeitos tardios desta tradição se encontram, embora que de modo ambíguo, na seguinte definição que Louis Berkhof faz do soberano poder de Deus:

O poder em Deus pode ser chamado de a energia efetiva de sua natureza, ou essa perfeição de sua existência mediante a qual ele é a causa absoluta e suprema ... A potentia ordinata pode ser definida como essa perfeição de Deus mediante a qual, ele, pelo mero exercício de sua vontade, pode executar tudo o que se encontra em sua vontade, ou conselho. (Teologia Sistemática, pp. 82-83).

Segundo assume a escolástica tradicional, os poderosos atos de Deus na história são reduzidos a problemas racionais que devem ser resolvidos analiticamente pelo intelecto humano. Os decretos de Deus são acomodados às leis da causalidade, tendo como resultado uma tirania da probabilidade lógica. O próprio Deus é reduzido a maior das premissas que formam um extenso processo de argumentações dedutivas. Desta maneira, o Deus ativo, santo, que guarda o pacto feito com Abraão, Isaque e Jacó, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, desaparece detrás dos argumentos de filósofos e teólogos (Pascal). O teor profundamente espiritual da mensagem bíblica é majoritariamente silenciado. A idéia de “a analogia do ser” (analogia entis), com a sua correspondente teoria do conhecimento, domina a discussão, encerrando a Deus e ao homem numa rede divida de declarações lógicas. A autonomia da razão humana rivaliza com a revelação divina como princípio operativo. Os pensadores cristãos tornam-se cegos ante o fato de que a própria racionalidade é uma função criada, sujeita as normas e limitações da criatura. Deste modo, a distinção entre Criador e criatura, praticamente, sofre um eclipse total.

Esta tradição escolástica na teologia resulta num número de duvidosos enfoques do tema dos milagres. Alguns afirmam que os milagres são contra naturam; que operam em oposição às normas estabelecidas na ordem da criação. Outros os caracterizam como supra naturam; que esporadicamente, e em diferentes lugares, Deus suspende momentânea e localmente suas “leis naturais” que normalmente governam o curso regular dos acontecimentos, para dar lugar a intervenções sobrenaturais. Ambas posições sustentam-se em cosmovisões dialeticamente dualistas. Tal como enfatiza Diemer, quando o homem moderno trata de explicar os milagres apelando ao sobrenatural, na realidade está negando o miraculoso.

Temo que uma quantidade de cristãos contemporâneos, com seu conceito de milagres como sendo atos sobrenaturais, e com seu conhecimento da medicina e psicologia atual, duvidariam do caráter miraculoso das curas relatadas nas Escrituras se as mesmas ocorressem na Europa de hoje... (porque) o sobrenatural sempre foi, é, e sempre será, um asylum ignorantiae em que alguém pode classificar tudo e cada coisa que não se pode explicar. (...) [por isso] estou convencido que de modo algum é necessário estabelecer intervenções sobrenaturais como uma explicação dos milagres que as Escrituras relatam. Todos que usam o sobrenatural como uma explicação, se privam do discernimento que poderiam alcançar enquanto a verdadeira natureza desses acontecimentos (Nature and Miracle, pp. 21-23).

Numa cosmovisão biblicamente dirigida e abrangente, Deus e o mundo não são duas forças em competição. Conseqüentemente, naquilo que denominamos milagres, Deus não elimina a agência instrumental de suas criaturas. Elas continuam sendo seus servos, que respondem ao poder governativo da Palavra. Por isso, estes poderosos atos de Deus, nem contravém, nem suplantam sua ordem dinâmica, mas estável, para a criação. O potencial para as obras miraculosas é dado desde o começo em e com a permanente Palavra de Deus para a nossa vida em seu mundo. Portanto, os milagres não são “aberturas” sobrenaturais acima e além das ordenanças da criação. Com o seu poder, realizador de maravilhas, Deus não retira o seu cuidado providencial, nem o põe de lado, nem o ignora, nem o coloca na espera, nem anula o seu impacto. A vontade de Deus, revelada nesses assombrosos sinais e maravilhas reside no impacto do poder da própria Palavra. Não há nada de arbitrário, ou caprichoso nisto. Em nossa perspectiva podem parecer como intervenções surpreendentes, inesperadas, extraordinárias da mão de Deus na história. Todavia, para Deus os milagres não são milagres como os percebemos. São apenas a execução de sua vontade, conforme outros caminhos, que a nós parecem não usuais e excepcionais, entretanto, são caminhos que são consistentes com a ordem de Deus. Para citar outra vez a Diemer, “com os sinais e milagres da providência de Deus na história da humanidade não se suplanta nenhuma lei, nem relações estáveis. Mas, que sob condições distintas às ordinárias, bem conhecidas, manifestam-se outros poderes. Isto ocorre quando o homem vive e atua baseado na fé e oração. Assim as capacidades e poderes da natureza são ativados a serviço da vinda do reino de Deus na terra” (Nature and Miracle, p. 16). Por isso, segundo o conceito bíblico:

Um milagre não é sinal de que um Deus, normalmente ausente, se faz momentaneamente presente, ... [mas], é um sinal de que Deus, por um momento e com um propósito especial, está transitando por caminhos que normalmente não transita, ...um sinal de que Deus, sempre presente em poder criador, está operando aqui e agora, de uma maneira que não é familiar (Lewis Smedes, Ministry and the Miracle, pp. 48-49).

Todas as possibilidades da criação estão ao serviço de Deus. Por isso, os milagres não contradizem, mas, abrem de maneira dramática o poder sustentador e restaurador da Palavra de Deus para a criação. Essa Palavra inclui poderes assombrosos dos que escassamente somos conscientes, que com freqüência escapam a nossa atenção, e que na maioria das vezes, estamos insensíveis. Segundo as palavras de Berkouwer:

Não que nos milagres se revele um poder maior que o que se encontra no curso ordinário das coisas. Todas as coisas que Deus trás à existência é obra de sua singular onipotência. Mas nos milagres Deus usa outro caminho que se esperava dele, conforme o curso normal dos acontecimentos. Na Escritura muitas vezes, se pode discernir esta “outra maneira” da obra de Deus, e assim oferece o fundamento do caráter testemunhal dos milagres. Desse modo, se explica a origem do assombro (The Providence of God, p. 231).

Por isso, devemos ser sensíveis ao cuidado providencial de Deus, não somente em nossas experiências “de cima”, ou quando “escapamos com o justo” do ameaçador desastre, mas, também em nossas “rotinas cotidianas”. O maná de Deus no deserto, dificilmente seria mais milagre que o lançar a semente na terra, onde morre, para produzir um novo grão. Sua resposta à oração fervorosa pode ser tão real na terapia médica, como nas dramáticas curas realizadas por Jesus e seus apóstolos. Nas palavras de Bavink:

[a providência] se manifesta não somente e primordialmente em acontecimentos extraordinários e milagres, senão de igual modo, na ordem estável da natureza e nos acontecimentos comuns da vida cotidiana (Gereformeerde Dogmatiek, vol. II, p. 580).

O significado mais profundo e completo da providência especial de Deus, que chamamos milagres, certamente está escondido em mistério. Mas isto também é certo, quanto a sua providência geral. Nenhum aspecto da realidade criada, nenhum acontecimento na história é racionalmente transparente. Racionalismo é uma pretensão de orgulho. Portanto, o significado da profunda dimensão misteriosa dos milagres deve ser mais adorado com reverência, do que discernido com o intelecto. Essa classe de humildade nos “salva tanto do otimismo superficial, que não consegue ver os enigmas da vida, como do orgulhoso pessimismo, que desespera do mundo e de nosso destino” (Gereformeerde Dogmatiek, vol. II, p. 580).

É difícil traçar uma linha demarcatória entre providência regular e os milagres como “a outra maneira” do atuar de Deus na criação. Calvino estabelece uma estreita relação entre estes dois aspectos da providência divina ao comentar acerca dos dois “milagres”, isto é, a detenção do sol nos dias de Josué, e o retrocesso do sol em resposta ao pedido de Ezequias. Estas são suas palavras:

Através destes poucos milagres, Deus tem testificado que o sol não sai, nem se põe diariamente, por um cego instinto da natureza, mas, que ele mesmo, com o propósito de recordar-nos renovadamente do seu favor paternal conosco, governa seu curso. Nada é mais natural que a primavera siga o inverno; o verão a primavera; o inverno o outono; todos ao seu tempo. Todavia, nesta seqüência se percebe uma diversidade tão grande e irregular que realmente é manifesto que cada ano, mês e dia é governado por uma nova e especial providência de Deus (Institutes, I.16,2).

Todas as obras de Deus tem um significado profundo, misteriosamente miraculoso. Em conseqüência, crer na realidade histórica dos milagres é um aspecto permanente da história da fé cristã. A doutrina bíblica da providência e um conceito cristão da história são impensáveis aparte das poderosas obras de Deus, tais como a criação, o êxodo, e a ressurreição, entretecidas integralmente em toda a trama da revelação bíblica.

Todavia, com o começo da modernidade, ocorreu uma mudança radical. Os pensadores do Iluminismo relegaram os milagres a cosmovisão mitológica dos tempos antigos. Esta cosmovisão pré-científica foi declarada como obsoleta. Uma cosmovisão nova estava nascendo. O homem moderno, que finalmente havia chegado à maturidade, rejeita toda a necessidade de uma “hipótese” de providência divina, nem mesmo o mencionar “variáveis” e “desvios” tais como os milagres. O “deus dos espaços vazios” está morto. Porque agora vivemos num universo contido em si mesmo, um continuum fechado de relações uniformes de causa e efeito, um mundo hermeticamente selado pela lei da analogia que exclui fatores cientificamente incontroláveis, tais como a providência, milagres ou uma “mão superior” na história. O criticismo contemporâneo aplicado ao testemunho bíblico, quanto ao que se refere a sinais e maravilhas e milagre, é exposto claramente por Helmut Thielicke. As linhas seguintes são um eco da mente do homem moderno:

...a certeza somente é possível, se a verdade é análoga ao que contém minha estrutura de consciência, como consciência de verdade. Pois, sou um ser racional consciente de meu esclarecimento e maturidade, toda mensagem de verdade que chega a mim, somente pode ser recebida e apropriada por mim, se contém uma verdade racional. Isto significa que uma verdade que somente é atestada pela história, sem ser validada pela razão, é algo meramente descartável. Mas, de outro modo, se é validada pela razão, essa verdade pode ser separada da história que a atesta, uma vez que se tenha percebido. Porque a religião não é verdade, somente porque os evangelistas e apóstolos a ensinaram; eles a ensinaram porque é verdade. Deste modo, tenho meu próprio acesso, autônomo à verdade. Nas etapas imprecisas e imaturas de meu desenvolvimento, talvez, a verdade me chegue primeiro pelo caminho da história. Mas, quando a percebo, e quando a aproprio, sou independente daquele que a transmite e sustento-me sobre meus próprios pés. Quando terminar a educação histórica da raça, somente existirá o evangelho puro e eterno da razão (The Evangelical Faith, vol. I, p. 42).

A ousada presunção, confiada em si mesma, que domina este conceito racionalista do homem e do mundo, próprio do século dezenove, tem sido severamente castigada pelos revolucionários acontecimentos do século vinte. Os pensadores contemporâneos falam com maior cautela, e tem um tom mais tentativo dos assim chamados “resultados seguros do método científico”. São menos absolutos em suas afirmações sobre as “leis fixas da natureza.” Admitem que as coisas parecem serem mais complexas do que haviam presumido anteriormente. Atualmente as noções de contingência, indeterminação, relatividade e inclusive irracionalidade, são expressões comuns nos círculos da erudição. Encontramos sob os efeitos de uma “revolução exemplar”. Às vezes, os cristãos sentem tentados a regozijar-se ante tais sinais de atenuação e retratação na moderna cosmovisão mecanista-determinista. Talvez, se inclinem a pensar que esta mudança, ao menos ofereça uma leve esperança de obter, outra vez, um pequeno espaço para as obras da providência divina e para os milagres. Como se os milagres existissem graças às deficiências fortuitas da ciência! Quem sucumbe a esta mentalidade negativa, permitindo que a ciência moderna escreva a agenda decisiva, e contentando-se em levantar as escassas migalhas da fé que caem de sua mesa, não podem, senão, esperar com um sentido de temor e tremor as novas explorações científicas. Segundo o expressa Berkouwer:

Aquele que descobre um lugar para a obra de Deus na crise da ciência natural ... implicitamente está relativizando esta obra [divina] e tem-na posicionado contra a ordem natural considerando-a como uma realidade auto-existente. Desta maneira, o tema dos milagres sempre estará cercado com os problemas da ciência natural. E se abandonará em sua maior parte a forma bíblica de falar de Deus neste mundo (The Providence of God, pp. 219-220).

Ainda que de forma ambígua, em nosso século pessoas como Barth, Bonhoeffer e outros, contra-atacaram energicamente a hermenêutica histórico-crítico do liberalismo moderno, arraigando numa cosmovisão naturalista-secularista que despojou a revelação bíblica da realidade dos milagres. Isto levou Barth a tomar parte do método radical de demitolização de Bultamann. Também é bem conhecido o “Sim” de Barth contraposto ao “Não” de Brunner, quanto ao milagre do nascimento virginal. Todavia, como em toda hermenêutica consistente, o método barthiano de interpretar os milagres, encontra o seu contexto de significação em sua peculiar cosmovisão. Nela traça uma tênue linha demarcatória entre “história” e “supra-história”. Conseqüentemente, distingue entre “milagre” (o evento histórico) e “mistério” (seu significado supra-histórico). Milagres como o nascimento virginal realmente ocorrem, insiste Barth, em oposição a seus mestres modernistas. Todavia, para captar seu significado real, devemos observar além do seu caráter de evento histórico para focalizar seu significado trans-histórico, o mistério da livre e soberana obra de Deus em Jesus Cristo. Por isso, Barth ao tratar do “milagre do Pentecostes” distingue este evento como miraculoso, de seu significado misterioso. Em suas palavras:

O milagre é a forma de mistério. Não pode ser separado dele. Mas, se tem que distinguir e considera-lo de forma separada. O relato do mesmo está relacionado ao mistério, tal como o é, o relato do nascimento virginal, a encarnação operada em seu nascimento, ou da tumba vazia ao mistério da vida de Cristo como Ressuscitado, ou o dos milagres de Jesus à suas declarações messiânicas pronunciadas neles. Aqui, como em toda outra parte, o milagre tem a função particular e indispensável de indicar e ao mesmo tempo caracterizar o mistério, de dar seu sentido e distintivo e de interpretá-lo, tal como deve ser entendido. Aqui, como em outra parte, a forma não pode ser separada da matéria, nem a matéria da forma. Todavia, também aqui, não pode haver dúvida de que o milagre é neste sentido da forma de mistério, da obra divina e da revelação testificada.

Qual é então, o significado específico de milagre do Pentecostes? “...é o mistério absolutamente divino da liberdade destes homens para ser mensageiros a Israel, e ao mundo, do Jesus ressuscitado.” Todavia, a prova crucial e decisiva da fé está, conforme Barth, não nos sinais miraculosos do evento de Pentecostes como tal, mas no significado misterioso destes atos dramáticos, tal como foram expostos no sermão de Pedro. Entretanto:

O relato que Lucas faz deste milagre foi indispensável, não para explicar o milagre, que fala por si mesmo, nem para destacar ou estabelecer sua historicidade, mas para limitar ou defini-lo. Sua mensagem é que nos seguintes atos dos apóstolos, realmente estamos ante as maravilhosas obras de Deus e não de homens, e que estas obras consistem no fato de superar a separação entre os vizinhos próximos e distantes com a sua palavra (Church Dogmatics, III/4, no. 54, pp. 320-323).

A distinção barthiana entre milagre e mistério, interpretada como forma e matéria, expõe as marcas de uma reversão, de orientação existencial, em direção as tendências dualistas do escolasticismo protestante. Emerge, então, um novo esquema de natureza/graça. Tais conceitos dicotomistas, inclinados para um conceito deísta da relação Criador/criatura, tem atormentado, por muito tempo, nosso entendimento acerca dos milagres. Nas palavras de Bavink:

A maior objeção ao deísmo é, certamente, esta, que ao divorciar Deus do mundo, o infinito do finito, e situa-los de forma dualista um contra o outro, se convertem em poderes opostos, aprisionados numa luta sem fim, disputando cada um, o domínio do outro. O que é dado a Deus, é tirado do mundo. Quanto mais se estende a providência de Deus, maior é a perda de independência e liberdade que sofre a criatura. E por outro lado, a criatura somente pode manter sua auto-atividade repelindo a Deus e despojando-o de sua soberania (Gereformeerde Dogmatiek, vol. II, p. 563).

Estas cosmovisões assumem que a realidade criada, basicamente, opera de acordo com a lei natural. Todavia, esporadicamente experimentamos intrusões sobrenaturais, do além, na regularidade da ordem natural para demonstrar uma graça mui especial, ou algum cuidado providencial. Por detrás desta classe de interpretação de milagres está a ascensão, escassamente dissimulada, de uma cosmovisão dualista na qual a causalidade natural funciona independentemente da Palavra de Deus, com algumas ocasionais interferências corretivas nas mãos de um Deus ex machina.

Tais perspectivas estão diametralmente opostas com a cosmovisão bíblica, que nos confronta com Deus como providencialmente ativo a cada passo do caminho, sustentando incessantemente, e governando a todas as suas criaturas, mediante o poder sustentador e restaurador de sua Palavra. Por isso, fazemos bem em descartar muitas destas categorias comuns, usadas regularmente para distinguir o milagre da história ordinária. Entre elas estão as seguintes: (a) a distinção entre natural e sobrenatural, sendo que a criação é “natural” no sentido de possuir sua própria e singular identidade como criação, e ainda assim, “sobrenatural” no sentido de estar sujeita constantemente à ordenança divina; (b) a distinção entre atos mediatos e imediatos de Deus, sendo que, em cada relação da vida Deus trata com suas criaturas conforme o seu pacto, através do poder mediador da sua Palavra – contrário ao comentário de Calvino, de que a providência de Deus é o princípio determinante de todas as coisas e que o é, de tal maneira, que às vezes “opera através de um intermediário, às vezes sem intermediário, às vezes em oposição a todo intermediário” (Intitutes, I,17,1); (c) a distinção entre normal e anormal, já que estas categorias também representam uma forma altamente pejorativa de diferenciar entre as obras providenciais de Deus. Este conceito assume que a atividade de Deus, às vezes, sai da ordem normativa da criação.

Também é muito suspeito o método que (d) distingue os milagres da constante superintendência de Deus sobre a história, usando a distinção aristotélica entre causas lógicas primárias e secundárias a efeitos de sublinhar o sobrenatural e não mediato (contra media) da natureza dos eventos miraculosos (compare Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pp.175-176); (e) também é duvidoso aquele conceito de milagres que os distingue dos eventos históricos ordinários, declarando-os inexplicáveis, ou incompreensíveis, porque isto implicaria, que o significado da maioria dos eventos são transparentes. Na realidade não somos capazes de sondar com profundidade nem sequer aos acontecimentos mais comuns de nossa experiência cotidiana. Por isso, segundo as palavras de Herman Hoeksema:

É certo que não podemos entender como o Senhor pode multiplicar uns poucos pães em suas mãos divinas, de modo a dar de comer com elas a uma considerável multidão. Mas tampouco, está dentro dos limites de meu entendimento, como uma semente pode cair na terra e morrer, para dar fruto cem vezes mais. Certamente é verdade que minha mente se assombra, quando o salvador chama Lázaro para sair do sepulcro que já estava há quatro dias dormindo no pó; mas o nascimento de um bebê não transcende, nem mais nem menos, mais ousada compreensão. Como o Senhor Jesus pode transformar água em vinho, nas bodas de Caná, certamente é um mistério para nós, mas não é menos incompreensível como a videira pode produzir uvas e dessa maneira transformar diferentes elementos em vinho. Em outras palavras, para meu entendimento não há diferença em que Deus, por sua onipotência, opera na forma comum e conhecida sobre a videira de modo que produza uvas, ou se, pela mesma potência opera sobre a água para mudá-la em vinho. Se, o sol e a lua se detêm ante a palavra de Josué, confessamos não podermos compreender este fenômeno; mas, quando o Senhor a cada manhã, novamente causa que o sol se levante sobre o horizonte oriental, essa obra de Deus também transcende minha compreensão... o milagre nos assombra e capta nossa atenção especial. Mas, a causa disto não deve ser achada na compreensão dos eventos e atos comuns da providência de Deus, e a incompreensão nos milagres. Mas, deve ser achado em que chegamos a estar tão acostumados com as obras diárias do onipresente poder de Deus que normalmente não lhes prestamos atenção. No milagre, Deus certamente realiza algo especial que precisamente, por seu caráter especial chama a atenção. Todavia, nem no assim chamado caráter sobrenatural, nem no imediato, nem no caráter incompreensível de um milagre pode encontrar-se a idéia própria de um milagre (Reformed Dogmatic, pp.242-243).

A ênfase bíblica não recai nos milagres como um problema que deve ser resolvido, nem como um quebra-cabeças referindo-se a sua possibilidade, ou probabilidade, mas sobre a sua realidade como fatos. Naturalmente que os milagres ocorrem! O que mais esperamos? Quanto à ressurreição os críticos poderão exclamar: impossível! Todavia, a Escritura fala numa linguagem totalmente diferente. Foi impossível que a morte retivesse a Cristo (At 2:24-28). Os milagres são confirmações da invencível verdade da Palavra de Deus. Não são exibições brutas de poder. Seu propósito não é impressionar as pessoas com tediosas demonstrações da onipotência divina. Não são para satisfazer nossa curiosidade. Os milagres estão carregados de intenção revelacional, de propósito e significado.

Conseqüentemente, a Escritura estabelece uma estreita relação entre o milagre e a fé. A fé tem olhos para ver as maravilhosas obras de Deus, sendo ela mesma um milagre da graça divina. Nos evangelhos lemos que em alguns lugares onde a incredulidade havia cegado as pessoas “Jesus não pode realizar ali nenhum milagre...” (Mc 6:5). Talvez, nossa freqüente impotência espiritual esteja relacionada a uma falta de fé nas “obras maiores” (Jo 14:12-14) que nosso Senhor prometeu. Por isso, não há uma boa razão bíblica para restringir o miraculoso poder de Deus, em certos tempos (passados) e outros lugares (muito longes), por exemplo, na era bíblica. Rejeitar o plano da realidade, ou inclusive a possibilidade de milagres em nossos tempos, expõe nossa derrota ante o espírito secular do presente. Hoje a vida está tão aberta aos milagres como sempre. Render-se ante uma cosmovisão cerrada é empobrecer o poder da oração. De outro modo, uma fascinação excessiva com os sinais miraculosos nos tornará facilmente cegos, quanto ao cuidado providencial de Deus nos acontecimentos comuns da vida cotidiana. Os milagres não são sensações exteriores a este mundo. São parte integral de nossa experiência terrena. O número de coisas operadas por milagres, em resposta à oração, supera ao que a maioria de nós jamais houvesse sonhado. Deus opera nos milagres, não contra naturam, senão contra peccatum, contradizendo com isto, a direção pecaminosa, a distorção e perversão da vida no mundo, que contravém a obra criadora de suas mãos.

Por isso, os milagres não são acontecimentos anormais, ou não-naturais. Tais noções pressupõem a normalidade da “lei natural”. Entretanto, eles são reafirmações da normatividade da boa criação, da permanente fidelidade de Deus às promessas de seu pacto. Os milagres são sinais e maravilhas do shalom que Deus quer para nós, por enquanto destruído, mas restaurado em Cristo, um shalom cuja restauração final é posta diante de nós, como uma esperança escatológica. Os milagres representam manifestações do reino na presente realidade, do reino vindouro. São poderosos sinais para recordar-nos a dimensão do “já” da vinda do reino. Como declarou Jesus “mas se pelo dedo de Deus, eu expulso os demônios, certamente o reino de Deus é chegado entre vós” (Lc 11:20). Mas, o assombro que despertam em nós, também nos recorda enfaticamente a dimensão do “ainda-não” do reino. Todavia, sua ocorrência, aparentemente excepcional, não deve confundir-nos a pensar que são “desvios”, excursões a alguma “terra de ninguém e do nunca”. Os milagres são sinais do reino, firmemente plantados junto a esse caminho, cristologicamente reaberto, que nos conduz a renovação dessa boa terra onde reside a perfeita justiça.



 

 


NOTAS:

[1] A lei lógica da não-contradição diz, que duas afirmações contrárias não podem ser mantidas ao mesmo tempo no mesmo sentido (nota do tradutor).


Traduzido:
Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki
09 de Julho de 2004.


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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Batismo: A Circuncisão Cristã


(Gn 17:1-14; Cl 2:8-15; Mt 28:-18-20; Tt 3:5)

por

Rev. Paulo R. B. Anglada


I. INTRODUÇÃO

O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordenados por Jesus para serem observados na dispensação da graça. A ceia foi instituída quando da última participação de Cristo na páscoa (Mt 26:26-30) [1]. O batismo está incluído na grande comissão, mencionada em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16). Na concepção reformada, “os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra. [2]

1. Importância do Assunto

Há algumas questões controvertidas relacionadas ao batismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e ao modo do batismo. Nossos irmãos batistas e pentecostais (a maioria em nosso contexto) não batizam crianças e só reconhecem o batismo por imersão. As outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada, anglicana, presbiteriana, metodista, etc.), diferentemente, batizam crianças e reconhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão), preferindo o segundo.

Isto, além da prática católica de batizar, indiscriminadamente, qualquer criança, torna necessário que forneçamos as razões das nossas práticas concernentes ao assunto. Este artigo tem como propósito apresentar um resumo da teologia reformada concernente ao batismo, especialmente no que concerne a estas questões controvertidas.

2. O Problema Básico

Do ponto de vista reformado, o erro básico daqueles que não batizam crianças e exigem a imersão consiste em perderem de vista a continuidade da revelação da obra da redenção. A progressividade da revelação da obra da redenção, planejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade.

Antes de mais nada, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões diferentes. A Igreja Cristã não é uma outra igreja. O Apóstolo Paulo revela claramente que a Igreja Cristã não é uma nova árvore, mas apenas um galho enxertado na mesma árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o ‘‘pai de todos os crentes’’ (Rm 4:11). Abraão é o pai tanto de incircuncisos como de circuncisos, ‘‘que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado’’ (Rm 4:11-12).


II. O SIGNIFICADO DO BATISMO

 

1. Não É um Atestado de Salvação

Não é necessariamente o sinal visível de que a pessoa está salva. Não se trata de um rito de admissão pública na igreja invisível, mas na igreja visível — e esta inclui salvos e não salvos:

Nem todos os de Israel são de fato israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa (Rm 9:6-8)

Há diversos exemplos de membros professos da igreja tanto no AT como no NT, os quais foram circuncidados/batizados, mas que nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito Santo. Auxiliares diretos do Apóstolo Paulo, como Demas, abandonaram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10). Referindo-se a essa classe de pessoas, o Apóstolo João explica que ‘‘Eles saíram do nosso meio (da igreja visível), porque não eram dos nossos (membros da igreja invisível); porque se tivessem sido dos nossos (da igreja invisível), teriam permanecido conosco (na igreja visível); todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos (da igreja invisível)’’ (1 Jo 2:19).

Parece desnecessário provar o que a História da Igreja e a experiência tornam mais do que evidente.


2. Não é Meio de Salvação

O batismo não tem poder divino inerente. Em si mesmo ele não pode regenerar ninguém. Esta doutrina (da regeneração batismal) é ensinada pela Igreja Católica. Para eles, o batismo confere os mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo, purificando da corrupção interna, garantido remissão da culpa do pecado e infusão da graça santificadora, unindo o batizado com Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus. Na teologia Católico-romana, a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental.

Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si mesmo; ele não opera uma nova vida; ele a pressupõe e a fortalece, mas não a opera nem garante. Eis o que diz a Confissão de Fé de Westminster:

Posto (ainda) que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados.


3. Não é Essencial à Salvação

A Igreja Católica pensa assim, mas nós, protestantes, não. O batismo é obrigatório, por obediência aos preceitos de Deus. E a nossa desobediência a este preceito, naturalmente resultará em empobrecimento espiritual, como acontece com a desobediência a qualquer outro preceito do Senhor.

Entretanto esta concepção do batismo como essencial à salvação é contrária ao caráter espiritual do Evangelho, que não condiciona a salvação à formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz é evidência incontestável disso. Jesus afirmou que naquele mesmo dia ele estaria consigo no paraíso, sem batismo algum.


4. É a Continuação da Circuncisão

Os dois sacramentos do Antigo Testamento não foram abolidos, mas substituídos.

A páscoa (o sacramento comemorativo da igreja visível) transformou-se na santa ceia, quando Jesus dela participou pela última vez (Mt 26:26-30).

A circuncisão (sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no batismo cristão, visto que não mais havia necessidade de derramamento de sangue, pois o Cordeiro Pascal estava preste a ser imolado. Em Colossenses 2:11-12, o batismo cristão é chamado explicitamente de ‘‘circuncisão de Cristo’’ (o mesmo que circuncisão cristã) :

Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.

O argumento do Apóstolo Paulo é evidente: nós cristãos também fomos circuncidados, não com o corte do prepúcio, mas com o batismo cristão que tem a mesma função da circuncisão judaica, podendo portanto até mesmo ser chamado de circuncisão cristã.


5. É o Selo do Pacto da Graça

Já que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica, o batismo é, para a Igreja visível no Novo Testamento, o que foi para a Igreja visível no Antigo Testamento: a confirmação (o sinal visível) da aliança que Deus fez com Abraão, o “pai de todos os crentes.” É exatamente este o papel da circuncisão, conforme as palavras do próprio Senhor a Abraão, quando da instituição desta ordenança em Gênesis 17:1-13:

Quando atingiu Abraão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus todo-poderoso: anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança (um pacto) entre mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente... será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações... estabelecerei a minha aliança (pacto) entre mim e ti e a tua descendência no curso das gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua descendência. Disse mais Deus a Abraão: Guardareis a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa, como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.

A circuncisão dos Israelitas e dos prosélitos do judaísmo era, portanto, um sinal externo da aliança de Deus com Abraão, segundo a qual ele (Abraão) e seus descendentes constituiriam a igreja visível de Deus na terra. O batismo cristão, assim como a circuncisão judaica, é, portanto, o sinal externo solene de admissão na igreja visível.

Isto não implica necessariamente em que todos os de Israel (da igreja visível no AT) fossem ou seriam verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível), ou seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salvadora. Nem implicava em que aqueles que não fossem de Israel (judeus), não pudessem vir a ser verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível).

A circuncisão implicava, sim, em que seriam considerados povo de Deus, e seriam objeto do seu especial cuidado, da sua bênção e da sua revelação. De fato, os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de privilégios especiais, tais como ‘‘a adoção, e também a glória, as alianças (os pactos da graça e da lei), a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne...’’ (Rm 9:3-4). Depois de demonstrar a culpabilidade universal (de gentios e judeus), o Apóstolo Paulo pergunta: ‘‘Qual pois a vantagem do judeus? ou qual a vantagem da circuncisão?’’ Ele mesmo responde: ‘‘Muitas, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.’’ (Rm 3:1-2).

Conclusão: O batismo, assim como a circuncisão, é o rito ou forma externa determinada por Deus para simbolizar e selar a admissão de pessoas na igreja visível, como beneficiários do pacto da graça e objeto do seu cuidado especial. É verdade que o símbolo pressupõe, em geral, o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo pela Palavra (Tt 3:5), por meio do arrependimento e da fé; mas não o opera nem garante.


III. AS CRIANÇAS NO PACTO DA GRAÇA NO ANTIGO TESTAMENTO

A questão realmente importante com relação ao batismo infantil como “a circuncisão cristã” é a seguinte: as crianças foram incluídas como beneficiárias do pacto da graça que Deus fez com Abraão? E a resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão as crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias do pacto da graça, como membros da igreja visível no AT. Por isso deveriam ser circuncidadas: ‘‘O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações.’’ (Gn 17:9-12). Não haveria nenhum impedimento em instituir a circuncisão apenas para os adultos! Mas isso não ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque era o propósito do Senhor que sua aliança fosse com Abraão e com a sua descendência.

O que precisa ser entendido é que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada pelos reformados de pacto da graça, é a implementação histórica de uma aliança eterna, e nunca foi ab-rogada (anulada). Esta aliança, cujo selo era a circuncisão e agora é o batismo (a circuncisão de Cristo) é anterior à lei de Moisés e portanto continua vigorando. O pacto da lei passou (um adendo), é verdade, bem como suas leis cerimoniais. Mas não a aliança da graça com Abraão, a qual foi instituída cerca de quatrocentos anos antes da lei de Moisés. A aliança com Abraão não passou, é ‘‘aliança eterna’’. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentado a páscoa, e depois ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma.

É isto o que o Apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3:17. Demonstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão, ele diz: ‘‘Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.’’

Logo, a aliança mencionada no Novo Testamento não é uma outra aliança, uma aliança recentemente estabelecida, que ab-rogou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança renovada, por Aquele que é o Mediador da aliança: Jesus (cf. Gl 3:27,29). A palavra usada não é “nevo”, mas “kainov” como em novos céus e nova terra (não outros céus e outra terra, mas estes céus e esta terra renovados).

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a ‘‘comunidade de pacto’’. Somos os verdadeiros descendentes de Abraão. ‘‘Os da fé é que são filhos de Abraão’’(Gl 3:7). Somos (a igreja cristã) os ramos que foram enxertados; nos tornamos participantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira (Rm 11:17). O meio de salvação também não mudou. Somos salvos hoje do mesmo modo como foram os crentes na época do Antigo Testamento; isto é, pela graça soberana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas Suas promessas, entre as quais a principal era a vinda do Messias, o Redentor de Israel (Rm 4:1-17). Logo, por que razão os filhos dos membros da nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que negar-lhes o selo da pacto: o batismo?


IV. AS CRIANÇAS E O PACTO DA GRAÇA NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça? Não, em nenhum lugar do Novo Testamento os filhos dos que pertenciam a aliança — os quais tão enfática e explicitamente nela foram incluídos em Gênesis 17 — foram excluídos. Pelo contrário, há afirmações também explícitas de que continuam incluídos.

1. O próprio Senhor Jesus afirmou que eles pertencem ao seu reino: ‘‘Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus’’ (Lc 18:16).

2. Pedro confirma que a promessa os inclui: ‘‘Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe’’ (At 2:39)

3. O Apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos como ‘‘santos’’, quando pelo menos um dos pais é crente. Escrevendo aos Coríntios, Paulo orienta os cônjuges que haviam se convertido a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente dizendo: ‘‘o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, vossos filhos seriam impuros; porém, agora são santos’’ (I Co 7:14)

4. Há ainda exemplos implícitos de sua prática nas páginas do Novo Testamento:

Lídia: o Senhor abriu o seu coração para crer, e logo foi batizada, ela e toda a sua casa (At 16:14,15).

O carcereiro de Filipos: Tendo perguntado a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: ‘‘Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os seus’’ (At 16:30-33)

Estéfanas: Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo havia batizado estava a ‘‘casa de Estéfanas’’ (I Co 1:16)

5. Os Pais da Igreja, de um modo geral, reconhecem e mencionam a prática do batismo infantil. Nove, dentre doze Pais que viveram nos dois primeiros séculos, referem-se à prática do batismo infantil; ex: Justino Mártir (130), Irineu (180), Orígenes (230). Posteriormente, Agostinho afirmou que ‘‘nenhum concílio jamais ordenara o batismo infantil por ser este uma prática que vinha desde os tempos apostólicos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse o contrário’’. O Concílio de Cartago recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do batismo infantil após o oitavo dia de vida era comum.

6. Deve-se se observar que, se não há exemplo explícito de batismo infantil no Novo Testamento, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos!


V. OBJEÇÕES


1. Não existe mandamento para batizar crianças

E nem era necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre foram reconhecidas como membros da igreja visível do Antigo Testamento. Seria de se esperar o contrário: um mandamento para não mais incluí-las na igreja do Novo Testamento. Também não existe mandamento explícito instituindo o domingo como o dia do descanso cristão, nem mandamento explícito incluindo as mulheres na Ceia do Senhor!


2. As crianças não preenchem as condições necessárias: arrependimento e fé

O mesmo argumento as excluiria do céu! “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13:3). “Quem nele crê não é condenado; o que não crê já está condenado” (Jo 3:18). Mas Jesus não as excluiu, e mesmo os que fazem essa objeção não as excluem.

O argumento é válido apenas para os adultos que podem exercer a fé, mas não para as crianças. A Bíblia também diz: ‘‘Quem não trabalha não coma’’. E as crianças! Devemos deixá-las com fome, porque não podem trabalhar?!

No AT as crianças (filhos da aliança) também não poderiam se arrepender e ter fé nas promessas (condição para a salvação também no AT), mas mesmo assim eram circuncidadas e consideradas membros do povo de Deus (da igreja visível) e beneficiárias da aliança.


3. Que benefícios pede produzir na criança?

Que benefício poderia produzir na criança a circuncisão? Muitos, não apenas para a criança, como também para a igreja e para os pais, como veremos a seguir.

 

VI. IMPORTÂNCIA DO BATISMO INFANTIL


Para a Igreja


1) Edificação dos membros.
2) Responsabilidade da igreja na orientação dos pais e dos filhos.

Para os Pais

1) Conforto no sentido de que os filhos pertencem ao pacto. A não ser que rejeitem quando adultos, essa é a condição deles.
2) Responsabilidades: fazer os filhos conhecerem a sua condição de pertencentes ao pacto. Serem fiéis (dando-lhes bom testemunho). Educá-los no temor do Senhor.

Para as Crianças


1) Quando chegarem à idade da razão, saberão que pertencem à aliança e se perguntarão: O que isto significa? E serão tão beneficiadas com o batismo quanto aqueles que são batizados quando adultos.
2) Gozam de todos os privilégios da Igreja Visível: oração, conselhos, disciplina, ensino da Palavra, exemplo dos outros fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto.


VII. O SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO

 

1. A Prática Batista e Pentecostal

Os nossos irmão batistas e pentecostais (estes historicamente procedentes dos primeiros), insistem na imersão como sendo a única forma legítima do batismo.

A primeira razão que apresentam está relacionada ao simbolismo do batismo. Para eles, baseados em Romanos 6:3ss e Colossenses 3:12, o batismo é uma prescrição para imergir, como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Eis os textos:

Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).

Tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl 2:12).

A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de exemplos de batismos por imersão no Novo Testamento.



2. A Prática Reformada e Protestante

A prática reformada não insiste na necessidade de imersão (nem de aspersão). As razões são as seguintes:

1) O simbolismo do batismo não está na imersão, mas na purificação, no lavar purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da impureza, o batismo com água (que é a circuncisão cristã) simboliza o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo (por meio de Cristo): “ele [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso salvador” (Tt 3:5).

Este simbolismo do batismo é exemplificado no relado do apóstolo Paulo das palavras de Ananias no seu próprio batismo: “levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At 22:16). Isto é, o batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação do pecado.

Eis o que diz o Catecismo de Heidelberg sobre o batismo:

Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me encontro tão seguramente lavado com o seu sangue e com o seu Espírito das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado externamente com água que é usada para remover a sujeira do meu corpo (resposta 69).

É claro que num sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decorrentes da salvação estão implícitas no símbolo: a morte para o pecado, o novo nascimento, o ingresso no corpo de Cristo por meio da nossa união com ele, etc. E muitas figuras são empregadas neste sentido: morrer com Cristo, ser sepultados com Cristo, ressuscitar com Cristo, viver em Cristo, andar em Cristo, revestir-se de Cristo (Gl 3:27), ser plantados com Cristo, etc. Mas isso não significa que alguma dessas figuras seja a única simbologia indicada no batismo.

A simbologia do batismo está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação purificadora do Espírito Santo, o qual nos separa do uso comum (impuro) e nos une a Cristo; e não no modo como essa lavagem é efetuada. Convém observar que, mesmo em Romanos 6, o contexto geral é a purificação do pecado:

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para ele morremos?... Sabendo, isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs. 1-2, 6, 12).

O essencial no batismo, é explicitamente ensinado na sua instituição e nos demais textos do Novo Testamento: que seja feito com água (At 10:47) e em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).


2)
 Do uso da palavra batizar (baptivzw) na Septuaginta. Nas quatro vezes que o verbo aparece, todas podem ser traduzidas por lavar, mas nem todas podem ser traduzidas por imergir. Exemplos: Daniel 4:33, onde lemos que o corpo de Nabucodonosor “...foi molhado do orvalho do céu...” Conferir Levítico 6:28: “e o vaso de barro em que for cozida [a carne da oferta pelo pecado] será quebrado; porém se for cozida num vaso de bronze, esfregar-se á na água.” Mesmo em 2 Reis 5:14, onde a imersão é provável, o propósito é claramente de lavagem como símbolo de purificação, conforme indicam os versos 10, 12 e 13.

3) Dos ritos de purificação no Antigo Testamento: frequentemente por meio de aspersões de sangue ou de água. Conferir números 19:9, 13 e 20. Estes ritos de purificação de utensílios, etc., são chamados de batismos no Novo Testamento:

E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar [ajnivpta] (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar [niywntai] cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem [baptivswntai]; e há muitas outras coisas que observam, como a lavragem [baptismonv] de copos, jarros e vasos de metal e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar [koinai - impuras]? (Mc 7:2-5).

Hebreus 9:10, 13, 19 e 21, fala da prática de abluções (baptismoi), de aspergir cinzas e sangue (rJantivzonsa), o povo, o tabernáculo e os utensílios sagrados com vistas à purificação religiosa.


4)
 Do uso da palavra no Novo Testamento:

a) Intercambiável com nivptw (lavar): maços 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38; Mateus 15;2 e 20. Observação: o modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de água, como hoje.

b) A contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30) é reconhecidamente uma contenda sobre purificação (v. 25).


5)
 Do caráter espiritual do culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma mas o espírito. A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos oficiantes, no templo, no rito, mas na sua natureza espiritual e verdadeira. Em conformidade com isso, em nenhum lugar no Novo Testamento é especificada a forma do batismo (imersão ou aspersão). Logo, por que enfatizaríamos nós?

6) É interessante observar também que não há um só exemplo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explícito e inequívoco a forma de batismo (imersão ou aspersão) praticada. Na verdade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos torna até improvável a imersão. É o caso do batismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era escassa (at 2:37-41); do eunuco no deserto (); de Paulo na casa de Judas, por Ananias (nada no relato indica que saíram da casa, At 9:17-19); e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).

7) Os desenhos, gravuras e pinturas mais antigos (do segundo e terceiro séculos) de cenas de batismos cristãos retratam o derramamento de água sobre o batizado.

CONCLUSÃO


1) O batismo com água foi instituído como substituto da circuncisão, como sacramento de inciação na igreja visível de Cristo na nova aliança, visto não ser mais necessário o derramamento de sangue. É, portanto, “a circuncisão de Cristo” (cristã).

2) O batismo não é um atestado de salvação (nem todos os batizados são necessariamente salvos). Não é meio de salvação (não opera a salvação). Não é essencial à salvação (mas deve ser praticado em obediência à ordem de Cristo).

3) O batismo é o sinal visível e selo do pacto da graça, de ingresso na igreja visível, do nosso compromisso público solene com Cristo e com a sua obra. Por meio dele os membros da igreja são visivelmente distinguidos das demais pessoas como povo de Cristo e beneficiários da aliança.

4) O simbolismo do batismo consiste não apenas ou especificamente na imersão (ou morte e ressurreição), mas no lavar purificador regenerador operado pelo Espírito Santo no coração daquele que se arrepende dos seus pecados e crê na eficácia e suficiência da obra de Cristo; e na sua conseqüência união com Cristo e com o seu corpo. O batismo não é símbolo de uma figura, mas de uma transformação interna espiritual.

5) O modo do batismo não é relevante. Pode ser tanto por imersão como por aspersão. Sendo que a aspersão (ou ablução) é preferível, na concepção reformada, à luz das práticas (batismos, lavagens) purificadoras do Antigo Testamento e mesmo dos exemplos do Novo Testamento e do testemunho da história da igreja.

NOTAS:

[1] - Conferir também Marcos 14:22-26; Lc 22:14-20; e 1 Coríntios 11:23-26.

[2] - Confissão de Fé de Westminster 27.1.

[3] - Newman, Lectures on Justification, 257. Citado por Alexander Hodge, Outlines of Theology (Edinburgh: Banner of Truth, 1972), 625.

[4] - Capítulo XXIII, parágrafo V.

[5] - Trata-se do uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), usado como um adjetivo. Ex: toswmath aJmartiva - o corpo do pecado/pecaminoso (Rm 6:6); ejn tw/swvm ati th sarkov - no corpo da carne/carnal (Cl 1:22). Assim também: to bavptisma jIwavnnou - o batismo de João/Joanino (Mt 21:25).

[6] - É esta a simbologia do batismo: o lavar regenerado do crente pelo Espírito Santo.

[7] - Conferir Confissão de Fé de Westminster, 27.3.

[8] - ejbavfh (no verso 30 na LXX).

fonte: http://www.monergismo.com/textos/batismo/batismo_anglada.htm

 

Batismo

por

Rev. Nelson Gonçalves de Abreu

 

Antes de prosseguirmos nossa abordagem a respeito do batismo, é necessário que entendamos o significado do nome. Calvino define batismo da seguinte forma: “Batismo é uma marca do nosso cristianismo e o sinal pelo qual somos recebidos na sociedade da igreja, para que enxertados em Cristo sejamos contados entre seus filhos”. [1]

O grande teólogo de Princeton, Charles Hodge, por sua vez, define batismo da seguinte forma: “Batismo é um sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa e sela nossa união com Cristo, a participação das bênçãos do pacto da graça e a promessa de pertencermos ao Senhor”. [2]

A meu ver essas definições se completam e nos dão um entendimento mais amplo do conceito de batismo que precisamos ter tanto como sinal e selo, do nosso ingresso no reino de Deus, como também de uma vida de testemunho a Cristo que necessitamos constantemente demonstrar por termos sido alcançados, pelo amor de Deus.


O Batismo testifica a remissão dos pecados.


O texto de Mc16.16 nos deixa claro esse ensino. O batismo serve de sinal e documento de nossa purificação, ele testifica que fomos redimidos pelo poder de Deus. A ideia não é a de que o batismo salva, mas que todos os que são salvos, são confirmados pelo batismo. Calvino a respeito disso diz o seguinte: “Porque Deus quer que todos os que creem sejam batizados para a remissão de pecados”. [3]

Essa afirmação nos ajuda a entendermos que devemos receber o batismo como uma promessa de que todo o que crer e for batizado será salvo.


Testemunho Bíblico.

Vejamos o que Paulo diz em Ef5.26, e também em Tt3.5 e também o que Pedro ensina sobre isso em 1Pe3.21. Entendamos o seguinte: Paulo não quis dizer que nossa purificação e salvação acontecem com água e que a água em si mesma tenha capacidade para nos salvar.

O que Paulo está dizendo é que neste sacramento se recebe o conhecimento e a certeza do dom da salvação como claramente demonstram essas palavras. Paulo aqui em efeito une a Palavra de vida com o batismo da água, como se disse-se que por meio do Evangelho as boas novas nos são dadas, as boas novas da purificação e da santificação sendo essa boa nova selada pelo batismo.

O que Pedro faz, é demonstrar figuradamente que a água no texto referida, é uma representação do sangue de Cristo, que o efeito mesmo da purificação é o sangue de Cristo que foi derramado sobre o seu povo, sendo que o mesmo sangue, serve de juízo de Deus contra os descrentes que se insubordinaram.

Percebam que quando Pedro usa o acontecimento do dilúvio para fazer um paralelo com o sangue de Cristo vs18, ele nos deixa claro que as águas que figuravam ou prefiguravam o juízo de Deus sobre os homens, foram às mesmas águas que salvaram o seu povo escolhido.

Calvino esclarece interessantemente isso dizendo: “O batismo não nos promete mais purificação que se fez pelo derramamento do sangue de Cristo, o qual está figurado na água, pela semelhança que ele tem com ela de limpar e lavar”. [4]


O Batismo testifica a remissão dos pecados passados e futuros.

Com essa proposição o que queremos dizer é que em qualquer tempo em que sejamos batizados, somos lavados e purificados de uma vez por todas. Portanto precisamos ser confortados pelo seguinte; quantas vezes cairmos, devemos refrescar de novo a memória com o batismo, e nos assegurarmos na alma, de que nossos pecados de fato foram perdoados.

Isso não significa que devemos pecar licenciosamente, não ganhamos licença para pecar o que seria um terrível atrevimento contra o nosso Senhor Jesus Cristo. Essa doutrina nos dá segurança nos momentos de canseira e opressão por causa do peso dos pecados para levantarmos nossa cabeça e prosseguirmos com Cristo na fé cristã, mesmo nas situações de confusão. Cristo é a remissão dos pecados passados também Rm3.25.


O Batismo nos mostra a nossa mortificação e nova vida em Cristo.

É importante o texto de Rm6.4. Com essas palavras não só nos exorta a que lhe imitemos, como se dissesse que pelo batismo, somos admoestados a que seguindo o exemplo de Cristo, morramos para as concupiscência da nossa carne e a exemplo da justiça de Cristo, de sua ressurreição, vivamos em justiça e retidão na maneira de procedermos.

Argumentos parecidos com esse e com a mesma ideia de morte e vida deve ser visto em Cl2.12, Tt3.5


O Batismo atesta nossa união com Cristo.


O batismo nos dá a garantia e nos certifica de que não somente somos enxertado na morte e na vida de Cristo, mas também unidos a Ele de tal forma que nos tornamos participante de todos os seus benefícios e de todos os seus bens. Deus consagrou e santificou o batismo no corpo de Cristo Mt3.13, a fim de que nos sejamos comum com Deus através de um vínculo inquebrantável de união que Ele estabeleceu conosco por meio de Jesus. Gl3.27.

Calvino colabora conosco dizendo a partir de Gl3.27 o seguinte: “E assim vemos que o cumprimento do batismo está em Cristo, o qual por causa disto chamamos objeto do batismo. Não há pois motivo para estranharmos quando ouvimos que os apóstolos batizavam em nome Dele At8.16; 19.5, ainda que haviam sido enviados a batizar em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Porque todos os dons de Deus que se oferece no batismo se encontram em Cristo somente”. [5]

Todas as bênçãos da regeneração e o cancelamento dos nossos pecados e o ingresso na família de Deus são nos dados por intermédio de Cristo.


O Batismo de João e o Batismo cristão.

Para esclarecer alguma possível dúvida que possa surgir em nós quanto algumas ambiguidades presentes nesses batismos, quero afirmar que não há nada de dessemelhante neles. Todos batizam em nome de Cristo de quem procede a remissão dos pecados. João disse que Cristo era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo Jo1.28-29; através de seu sacrifício, Deus aceitou Sua justiça, ou melhor a propiciação de justiça sendo Cristo o autor da nossa salvação.

Não há diferenciação de significado entre o batismo de João e o de Cristo. Como disse J. Calvino: “Se alguém busca na Palavra de Deus uma diferença entre o batismo de um e o de outro, a única que encontrará é que João batizava em nome de alguém que viria, e os apóstolos, em alguém que já veio”. [6] Lc3.16; At19.4.


O Batismo não restaura a justiça e a pureza originais.


A importância disso é fundamental para uma melhor compreensão do que o batismo é, pois o batismo não mexe com a nossa natureza pecaminosa. Aquilo que herdamos de Adão nosso pai, que é o pecado original que é perda da justiça original, não pode ser restaurado por intermédio do batismo.

O pecado original, que é a corrupção e a culpa, estão instalados em nossa natureza, o que nos faz réus da ira e do juízo de Deus e que produz em nós aquilo que as Escrituras chamam de obras da carne Gl5.19. O que devemos reter deste tema, é que somos batizados para a mortificação de nossa carne; mortificação que começou em nós desde o batismo, e que temos de prosseguir cada dia; e que será perfeita somente quando passarmos ao Senhor.

Enquanto vivermos em nosso corpo mortal nossos pecados estarão conosco mas se tivermos fé na promessa que nos foi dada no batismo, nossos pecados não serão nossos donos, nem reinarão em nós.

O apóstolo Paulo falando a respeito disso em Rm6.3, exorta-nos a permanecermos fieis a Deus e que não deixemos o pecado dominar sobre nós. Sabendo porém Paulo que somos pecadores e que podemos fraquejar, o que ele diz é que estamos debaixo da graça e não da lei 6.14.

Portanto ainda que pequemos não devemos abandonar a fé em Cristo, em quem fomos batizados e ressuscitamos Ef2.5. E para que ficássemos consolados definitivamente da grandeza do Senhor e da não condenação dos que são de Cristo, ele diz e Rm8.1, que para nós não há condenação.


Rápida abordagem sobre o batismo infantil.


Sei que este assunto é um dos mais polêmicos e mal explicados assuntos que vemos constantemente surgir dentro da igreja evangélica de todos os tempo e nações, até mesmo entre os evangélicos de linha reformada, chamados de evangélicos históricos há divergências sobre isso.

Portanto aqui tentarei pela graça de Deus fazer uma abordagem simples e ao mesmo tempo teológica, para tentar dissipar algumas dúvidas que porventura surjam ou já tenham se alojado no coração de vocês.

É fácil de observar hoje dentro da igreja, muitos pais que não tem convicções a respeito do por quê deveriam batizar seu filhos, e outros por sua vez, não o fazem por uma questão de tradição familiar e não de certeza sobre o que fala a bíblia, o que torna o batismo infantil algo sem sentido e vazio para ambos posicionamentos.

O sacramento batismal, tem cada dia se tornado algo sem nexo no meio evangélico porque poucos tem sabido ensinar seu propósito, o que acarreta numa terrível discussão sem relevância tanto para os que batizam seus filhos e não sabem explicar porque batizaram, quanto os que não batizam e também não sabem explicar porque não batizaram. Longe de ser alguma coisa esgotada nesse sentido, isso é apenas um ensaio sobre o respectivo tema, com a finalidade de trazer um pouco mais de clareza e fazer o ato sacramental do batismo, se tornar relevante e inteligível para nós e para a igreja de Cristo.


A herança da circuncisão.

Não devemos fechar nossos olhos para o seguinte: Cada doutrina ensinada no NT, tem suas origens, suas raízes no AT. Se você deseja conhecer melhor a respeito da doutrina do pecado, é necessário ir até o Gn3, se quiser entender mais abrangentemente a beleza da cruz, outro referencial são os livros do Pentateuco e os profetas e da mesma maneira é necessário conhecermos um pouco sobre a circuncisão para podermos falar do batismo infantil.

Deus salvou a Abraão e em Rm4, Paulo nos explica ali, que Abraão foi salvo pela graça, mediante a fé, tanto no AT, quanto no NT, podemos ler que Abraão foi salvo por que creu e isso lhe foi imputado como justiça Gn15.6; Rm4.9.

Em Gn17.7, Deus chama esta relação de salvação de pacto eterno. Um pacto de salvação que se realiza de geração em geração. Nesse pacto eterno feito através de Deus com Abraão e nunca o contrário, Deus deu um símbolo que foi a circuncisão como marca nessa relação de pacto Gn17.11.

O símbolo então da relação de pacto entre Deus e Abraão, foi a circuncisão. Esse símbolo é um símbolo diferente, se tentarmos entender isso por esse prisma, podemos ver que esse símbolo é um tanto estranho, mas absolutamente correspondente com aquilo que Deus queria ensinar por meio dele que é o significado da limpeza que ele nos passa. Is52.1 tanto incircunciso quanto imundo são sinônimos o que nos ajuda a afirmar que Deus utilizou um símbolo externo de limpeza para poder representar uma limpeza espiritual interior no homem Dt30.6

A idéia de limpeza, purificação era tão forte, que Deus chega a usar a palavra circuncisão ao invés de salvação em alguns lugares da bíblia e de não salvação aos incircuncisos Ez44.9; 1Sm14.6. O fato de isso acontecer não significa que a circuncisão é quem salva o indivíduo. Porém ela era vista como um sinal da salvação de Deus aplicada corretamente na vida de um filho de crente Gn17.12.


O novo símbolo; O Batismo.

Assim como a circuncisão no AT, o batismo, é o símbolo que Cristo usa para demonstrar essa marca de mudança e limpeza na vida dos cristãos em o NT, Mt28.19

John Sartelle, nos dá uma ajuda muito útil para entendermos porque Deus usou a água como símbolo de limpeza: “Podemos entender facilmente por que Deus escolheu a água como símbolo. Porque é um agente universal de limpeza. Ninguém esperaria que o pó, as folhas, ou o suco de frutas significasse limpeza. Assim, Deus escolheu este agente de limpeza universal como um símbolo de pureza espiritual”. [7]

Podemos com toda a certeza dizer que as manchas do pecado foram removidas do nosso coração interiormente pelo batismo, e que o batismo com água deixa claro essa certeza. A importância do batismo é fundamental não somente no seu sentido simbólico, mas também, em seu sentido realístico. O batismo significa ter sido separado para viver uma vida santa, da mesma maneira que as pessoas e os utensílios eram ungidos com água e óleo e separados para o uso sagrado no AT, assim também a pessoa é ungida e separada para a santidade Gl3.27.


Circuncisão e Batismo: Promessas, figuras e fundamento sãos os mesmos.

A partir desse subtópico, quero poder tentar esclarecer mais dilatadamente a idéia que trata de dois símbolos que tem o mesmo significado para tanto é necessário que prestemos a atenção às diferenças e conveniências existentes entre os dois sinais e o que podemos aplicar um do outro.

Quando o Senhor ordenou a circuncisão a Abraão Ele disse que seria o Deus dele e de sua descendência declarando-se o Senhor Todo Poderoso e mostrando também a abundância de todas as suas bênçãos procedentes dele e que seriam dadas também aos seus descendentes Gn17.7-10.

Nas palavras de Deus a Abraão, se contém a promessa da vida eterna, que deveria ser confirmada pela circuncisão, que marcaria, selaria a remissão de nossos pecados também com o simbolismo de mortificação e início de uma nova caminhada com Deus.

Quando olhamos para o batismo no NT, um símbolo que como vimos anteriormente é purificador, vemos a promessa de vida eterna, que deveria ser confirmada pela obediência ao realizar o ato simbólico, que marcaria e selaria a remissão dos pecados com o simbolismo de mortificação e início de uma nova caminhada com Deus, e mais com a explicita verdade de santificação presente nos dois atos Mc16.16.

O Reformador de Genebra nos presta um esclarecimento que considero de suma importância ao que está sendo dito: “A promessa no qual temos dito consiste a virtude dos sinais, é a mesma em ambos: eles falam; da misericórdia de Deus, da remissão dos pecados e da vida eterna. A coisa significada é sempre a mesma: A nossa purificação e mortificação. O fundamento em que essas coisas se apóiam e o cumprimento dessas coisas também são os mesmos.

Por conseguinte, se segue que não há diferença alguma entre o batismo e a circuncisão em quanto mistério interior, no qual consiste toda a essência dos sacramentos... A única diferença se refere às cerimônias externas que é o menos importante nos sacramentos posto que a consideração principal depende da Palavra e da coisa significada e representada.

Podemos então concluir que tudo quanto pertence a circuncisão, pertence ao batismo exceto a cerimônia externa e visível. A esta dedução nos encaminha toda a Escritura a qual se deve medir e pesar conforme a analogia e proporção da fé Rm12.3,6”. [8]

Com isso podemos afirmar que a idéia de pacto é a idéia que permeia toda a Escritura Sagrada, sendo que Deus fez um pacto com Adão e sua família, pois Adão como representante do povo, agia em nosso lugar e também no lugar de seus familiares mais próximos. Quando Adão pecou Deus confirmou seu pacto com Noé, e depois com Abraão, sendo que com este Deus instituiu a circuncisão como sinal deste pacto feito com ele e sua família, seus filhos, o que é chamado de pacto da graça pelos reformadores, esse pacto não muda, o que muda são os simbolismos dele, mas não ele.

Isso ressalta a profundidade com que Deus trata seus filhos e os filhos de seus filhos com quem Ele estabelece relações e as ratifica com o sinal do pacto.


Crianças no Pacto da Graça no AT

Quando Deus instituiu a circuncisão como sinal do pacto da graça feito com Abraão no AT, eles foram todas circuncidadas, fato que se não fosse realizado, estaria demonstrando que elas não faziam parte do povo de Deus.

É preciso entender que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada de pacto da graça é a implementação histórica de uma aliança eterna que nunca é destruída e nem desfeita. Obs: A aliança com Abraão não passou é aliança eterna. Paulo Anglada diz o seguinte a respeito disso: “As ordenanças, os símbolos dessa aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentada a páscoa, e depois ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma”. [9]

A perspectiva de Paulo em Gl3.17,demonstra que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão ou seja; uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha desfazer a promessa. A aliança em o NT, não é uma outra aliança recentemente estabelecida que anulou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança renovada por aquele que é o Mediador da aliança, que é o Senhor Jesus. Gl3.27,29. A palavra usada não é neuoa, mas kainoua, como em novos céus e nova terra, não outros céus e outra terra, mas céus e terras renovados.

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a comunidade do pacto, somos os verdadeiros filhos de Abraão, descendentes dele por fé. A salvação não mudou, a salvação é pela fé, o mesmo modo da salvação que alcançou os crentes em o AT.

As promessas também não mudaram, a crença é no Messias desde os tempos do AT, Rm4.1-17, porque então os filhos dos membros da nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que lhes negar o selo do pacto, que é o batismo?


Crianças e o pacto da graça no NT.

O NT exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça? Não, em nenhum lugar do NT os filhos dos que pertenciam à aliança foram excluídos. Ao contrário, o que há são, afirmações explicitas de que continuam incluídos.

Vejamos o que o Senhor Jesus fala a esse respeito em Lc18.16. Pedro também tem opinião clara sobre isso, o apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos de crentes como Santos quando um dos pais é crente ao menos 1Co7.14.

Há alguns exemplos implícitos de sua prática em vários lugares de o NT. AT16.14,15; At16.30-33; 1Co1.16.

Os pais da igreja de um modo geral sempre aceitaram o batismo infantil como uma prática vinda desde os tempos apostólicos e pelo menos 9 dentre 12 pais da igreja, o aceitaram foram eles: Justino Mártir 130, Irineu 180, Orígenes 230 e posteriormente Agostinho.

A argumentação é muito maior e forte para quem aceita essa prática do que para aqueles que não a veem com bons olhos. Se por um lado os opositores a essa doutrina dizem não haver exemplos explícitos disso em o NT, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos.

Calvino usa o seguinte argumento: “O Senhor disse expressamente que a circuncisão que se administra às crianças lhe servirá de confirmação do pacto que temos exposto. Se pois, o pacto permanece sempre o mesmo, é de todo certo que os filhos dos cristãos não são menos participantes dele do que foram os judeus do AT. E se participam da realidade significada, por que não lhes a de ser comunicado também o sinal”. [10]

Portanto o batismo infantil é bíblico e não podemos negar ou passar desapercebidos a esse fato que é tão importante para a edificação dos membros, para o conforto de saber que nossos filhos pertencem ao pacto e traz sobre nós pais, a responsabilidade de ensinarmos os nossos filhos no caminho do Senhor.

Quero encerrar este assunto contra argumentando uma pergunta que parece ser o forte dos que não aceitam o batismo infantil. Eles dizem o seguinte: As crianças não preenchem as condições necessárias para serem batizadas que é; o arrependimento e fé.

O terrível desse argumento é que se usado dessa forma, ele não somente exclui as crianças do batismo, como também do céu. Observemos o texto de Lc13.3 e também o de Jo3.18. Mas Cristo não os excluiu e nem mesmo os que fazem essa objeção os excluem.

Sobre isso Paulo Anglada diz o seguinte: “O argumento é valido apenas para os adultos que podem exercer fé, mas não para crianças. A bíblia também diz: ‘Quem não trabalha não coma’. E as crianças? Devemos deixa-las com fome, porque não podem trabalhar”. [11]

Esse argumento é válido também ao AT, onde as crianças não podiam nem se arrepender ou exercer fé, mas não foram excluídas de receberem o sinal do pacto nelas mesmas.


O Modo do Batismo e seu Simbolismo.

Os nossos irmãos tanto os batistas quanto os pentecostais, insistem na imersão como a forma legítima do batismo, tentaremos rapidamente compreender algumas coisas que nos esclareça melhor esse posicionamento.

A argumentação deles é baseada em Rm6.3, e também em Cl2.12, no entanto esses textos não estão aqui para argumentar favoravelmente de como devemos realizar o batismo, mas que nós estamos tão indestrutivelmente unidos a Cristo, que a morte de Cristo pelo pecado dos homens, deve ser a nossa própria morte para uma vida de pecados, que o ressuscitar de Cristo para uma vida incorruptível, deve ser o marco do nosso ressuscitar para uma vida pura e santa diante de Deus.

Mesmo porque, se assim não fosse e o texto estivesse se referindo a uma forma batismal, deveríamos para que ela tivesse validade, ficar 3 dias embaixo d’água o que jamais suportaríamos, pois foi esse o tempo em que Cristo ficou sepultado.

O texto não está falando de modo como se deve batizar, e sim da simbologia do batismo, que está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação purificadora do Espírito Santo, o qual nos separada da impureza e nos une a Cristo e não no modo como essa lavagem é efetuada.


Usos da palavra batizar.


Nas quatro vezes em que a palavra batizar, baptiuzis, aparece na Septuaginta em todas às vezes, o verbo pode ser traduzido por lavar, mas nem todas pode ser traduzida por imergir. EX: Dn4.33, Lv6.28, 2Rs5.14, e neste último texto onde a imersão parece ser provável, o propósito é claramente a lavagem como símbolo de purificação como os vs 10,12,13, indicam.

No AT, frequentemente os ritos de purificação eram por meio da aspersão do sangue ou da água e nunca por imersão no sangue e na água. Textos como Nm19.9, 13 e 20 nos ajudam nessa compreensão.

Observemos agora alguns textos no NT, que poderão nos ajudar a esclarecer ainda mais essa perspectiva. Mc7.2-5.

E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar (acsniuptoia) pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar (niutsntai) cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem (baptiuszntai); e há muitas outras coisa que observam, como a lavagem (baptsmonua) de copos, jarros e vasos de metal e camas, interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar (koinaiãã-impuras)?

Em Hb9.10,13,19 e 21 fala de abluções (baptismoiãã) de aspergir cinzas e sangue com vistas a purificação religiosa. Há muitos outros textos que serviriam mais para fortalecer a ideia de aspersão pela bíblia toda do que como querem afirmar os batistas e os pentecostais de que seria por imersão. Ver At2.37-41, At8.26-40, At9.17-19, At16.30-33.

Charles Hodge diz o seguinte a esse respeito: “E assim, no que diz respeito ao Novo Testamento, não há um só caso em que o batismo implique necessariamente a imersão; há muitos casos nos quais este sentido é totalmente inadmissível, e muitos outros nos quais é improvável no grau máximo”. [12]


NOTAS:

1 - João Calvino, Instituición, Livro IV, cap XV, p1028.

2 - C. Hodge, Teologia Sistemática, ed Hagnos, São Paulo, 1a ed 2001.

3 - João Calvino, Instituición, Livro IV, cap XV, p1028.

4 - Ibidem, p1029.

5 - Ibidem, p1031.

6 - Ibidem, p1032.

7 - John P. Satelle, O Batismo Infantil, ed Puritanos, 1a 2000, p13.

8 - Instituición, Livro VI, capXVI pp1045e1046

9 - Paulo Anglada, O Batismo Infantil, ed puritanos, p43.

10 - Intituición, LivroVI, cap XVI, p1046.

11 - Paulo Anglada, O Batismo Infantil, p46.

12 - Charles Hodge, Teologia Sistemática, p1417.


fonte: http://www.monergismo.com/textos/batismo/batismo_nelson.htm

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